Fundação Hermann Hering

Enchentes em Blumenau

Para entender a força das águas em Blumenau, é importante se situar ao local em que esses primeiros imigrantes se instalaram, próximo às margens do Rio Itajaí Açu. Para os recém-chegados a água do rio era fonte de vida, sinônimo de transporte e comunicação.

Mas em períodos de cheias, o cenário da cidade (que tem seu mapa cortado pelo desenho de um rio) sempre foi devastador.

Enchente de 1911. Residência de Paul Hering. Acervo Arquivo histórico José Ferreira da Silva.

Os desafios da primeira grande enchente enfrentada pela família Hering foram contados com detalhes em registrados escritos por Gertrud e Paul Hering. Recém instalada em Blumenau, a família custou a acreditar que haveria uma grande enchente no ano de 1880. 

O desespero de Minna Hering é lembrado em um dos artigos escrito por sua filha, Gertrud: 

“Papai não acreditava que houvesse uma grande enchente e procurava tranquilizar minha mãe. Até que uma manhã, a água estava em nosso quintal e continuava a subir. Só então, papai, com o auxílio de seu irmão Bruno, começou a transferir móveis e utensílios para o sótão. Mas o novo tear, que foi o começo do desenvolvimento da nossa indústria, não pode mais ser desmontado. Teve que ser deixado aos azares da sorte. Enquanto as águas continuavam subindo sempre, mamãe com as crianças foi rua a cima, ainda não tomada pelas águas, a procura de um asilo mais seguro. É fácil imaginar o desespero de mamãe, diante da maneira com que os céus haviam preparado a nossa recepção numa terra estranha.” 

Paul Hering, transcreveu em seu livro de memórias os prejuízos oriundos do evento da enchente de 1880: 

“Vieram tempos difíceis, pois os prejuízos na colônia foram enormes. Durou anos para recuperar o que em poucas horas fora destruído. A situação em nossa casa era desoladora. A água chegou até o cruzeiro da janela. O reboque das paredes, tanto dentro como do lado de fora da casa, se desmanchara e desapareceu até a altura onde as águas chegaram pois na construção da casa houve muita economia no emprego da cal e geralmente o reboque era feito apenas com barro e areia. “

“Depois da enchente, tão logo o tear circular ficou novamente em ordem e montado, recomeçou-se com a fabricação. Mas como havia somente uma caixa de fios, era preciso encomendar fio da Alemanha e meu pai não tinha dinheiro para isso. Então recorreu ao fundador da colônia, o Sr. Dr. Blumenau e pediu-lhe que emprestasse o necessário capital para comprar o fio. […] ele viu que nossa família era trabalhadora, que o produto manufaturado era bom e tinha boa aceitação, concordou e atendeu ao pedido do meu pai. “

A mudança da família para o bairro Bom Retiro amenizou o impacto das cheias, já que o parque fabril foi mudado para uma região um pouco mais afastada das margens do rio Itajaí Açu. No entanto, os prejuízos são sempre notáveis: tanto pela invasão física da água, quanto pela paralisação das atividades, fato que ocorreu 100 anos mais tarde na enchente de 1983:  

No Relatório anual de 1983, as dificuldades passadas no ano são justificadas pela: ocorrência mais do que conhecida das enchentes e enxurradas de julho a dezembro de 1983, responsáveis pela paralisação das atividades fabris da empresa por 15 dias, além dos prejuízos diretos, causados principalmente pela impossibilidade de atender a pedidos da exportação. 

Ainda nos dias de hoje a cidade de Blumenau fica em estado de alerta quando o nível do rio sobe em decorrência dos períodos de chuva. 

A verdade é que a história da cidade pode também ser contata por esses momentos, que geram traumas, mas fazem também nascer sentimentos de união e superação. 

HERING, Gertrud Gross. O Padre José Maria Jacobs. 

HERING, Paul Gehard. Memórias – Anotações – Aventuras. Trad. Frederico Kilian. Blumenau: Fundação Casa Dr. Blumenau, 1980.
  

HERING. Relatório Anual 1983.