Fazer moda com afeto é pensar em tudo o que está envolvido e
procurar as melhores maneiras para resolver algumas questões: pensar o planeta, lembrar que pessoas estão
por trás deste trabalho, proporcionar muito mais do que um produto sem alma – proporcionar uma experiência afetiva.
Iniciamos a manhã do dia 31 de maiop com a mesa redonda Memórias afetivas: moda e cidade, conduzida por Silvana Holzmeister (CAT Magazine) e Beto Guimarães (Agência Carme). Silvana e Beto atuam como importantes parceiros de iniciativas como a Revista Vogue, Haper’s Bazaar, Unilever, entre outras marcas.
Ambos contaram que vivenciaram uma intensa observação sobre
os últimos anos da cidade de São Paulo. A cidade se transformou, os jovens passaram a
ocupar as ruas – mesmo que não tenha sido criada nenhuma estrutura para que isso
ocorresse. Surgiram diversos grupos e a cada esquina há uma pessoa
completamente diferente, que revela seu mundo, suas crenças e seu estilo - com uma velocidade de mudança inenarráveis. Essas pessoas estão transformando o olhar sobre a
cidade. Estão quebrando padrões de comportamentos e as pessoas "menos prováveis" passam a ser influenciadores de novos comportamentos.
Assim, destas reflexões surgiu a revista colaborativa C.A.T., uma publicação independente que colabora com consumo
sustentável abordando a cultura da moda e do social. A CAT mostra a relação da roupa e da cidade com
as pessoas. É confeccionada e vendida sob demanda e visa dar voz às pessoas
oferecendo um espaço de expressão, como é o caso da edição #3 que traz em toda
revista intervenções com pixo, que
são inscrições codificadas por pichadores que tem como pano de fundo a cidade - ação frequentemente considerada como vandalismo/ subversão, quando na verdade trata-se de
um protesto por meio da ocupação e da marcação de um espaço que exclui grupos.
À noite, o estilista Walter Rodrigues nos contemplou com sua
fala sobre o atual mundo da moda e suas inspirações. Walter desconstruiu todas as
ideias que existem em torno da criação da moda brasileira. “Não faço moda
brasileira, faço a minha moda e ela independe do país em que estou”. Por meio de um mergulho em seus 30 anos de trabalhos
com a marca que levava seu nome, encerrada em 2012, Walter nos exemplificou suas
referencias de estilo e também visuais, e demonstrou que desde muito cedo o seu olhar
(de menino do interior) sentia o que era importante na moda. Suas referências
vão de Rei Kawakubo à Balenciaga, e como estas influenciaram seu modo de olhar e fazer a
moda.
O estilista nos mostrou como é importante
e gratificante criar moda com uma verdadeira pesquisa
de ideias, com o melhor acabamento, se permitindo a transformar o olhar. Assim se
cria seu estilo – mas muito mais do que isso: devemos considerar que por trás de um
paletó existe uma cadeia de pessoas trabalhando. Na origem de um tecido existem
empresas, existem memorias, afetos.
Walter hoje realiza um trabalho de mapeamento da iconografia
local. Seu trabalho sobre os Pampas Gauchos (realização da Sintecal) traz à
tona pessoas que seguem tradições antepassadas,
criam memórias.
Com todas estas falas, o evento Moda Documenta nos deixou
com uma sensação de que estamos no caminho certo. E que estimular um novo olhar para gerarmos transformações é um caminho para criarmos uma Moda pro Novo Mundo. Uma moda justa, uma
moda sentida, uma moda que gera memórias.
[Relato do nosso colaborador Daniel Knop, que participou do 7º Seminário Moda Documenta - 2017]